04/07/08
Quadras tiradas de «Este Livro Que Vos Deixo...»
Algumas quadras tiradas de
«Este Livro Que Vos Deixo»,
de António Aleixo (1899-1949),
duma edição de Vitalino Martins Aleixo, 1975.
Quando os homens se convençam
que a força nada faz,
serão felizes os que pensam
num mundo de amor e paz.
Não sou esperto nem bruto,
nem bem nem mal educado:
sou simplesmente o produto
do meio em que fui criado.
Forçam-me, mesmo velhote,
de vez em quando, a beijar
a mão que brande o chicote
que tanto me faz penar.
Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.
À guerra não ligues meia,
porque alguns grandes da terra,
vendo a guerra em terra alheia,
não querem que acabe a guerra.
Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
qu'rer um mundo novo a sério.
Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão?
Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, não parecendo o que são,
são aquilo que eu pareço.
Uma mosca sem valor
poisa, c'o a mesma alegria,
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.
Se o hábito fas o monge
e o mundo quer-se iludido,
que dirá quem vê de longe
um gatuno bem vestido?
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário